sábado, 25 de junho de 2011

Ao Infinito

Parecia estar inconsciente mas seu corpo acompanhava o movimento ondulatório, e ela tinha ciência disso. Era jogada suavemente de um lado para o outro, e foi exatamente essa oscilação que quebrou a tranqüilidade de seu sono. Perdida entre a sonolência e a realidade, Luciana não abria os olhos, mesmo sentindo o sol escaldante do meio-dia esquentar seus cabelos.
Ficou na mesma posição por uma ou duas horas, não sabia se assim estava confortável ou se simplesmente não tinha forças para mudar, até que sentiu algo gosmento e flexível agarrar sua perna direita, e por um impulso abriu os olhos, despertando-se completamente.
Ela só viu o azul.
Pobre Luciana, tentou voltar para o sonho mas a incredulidade nem ao menos permitia seus olhos de novamente se fecharem. Tentou freneticamente movimentar suas perninhas movidas pelo desespero que tomava conta de seu coração, mas a infinita quantidade de água somada à alga agarrada em sua perna não permitiram um movimento perfeito, e Luciana nem saiu do lugar. Ela chorou, mas engoliu o choro imediatamente após concluir que as lágrimas só aumentariam a quantidade de água que a encharcava.
Segurou-se no pedaço de madeira ao qual estava apoiada com toda sua força, como se este fosse sua última e única esperança de manter-se viva por mais algumas horas.
Tentou lembrar-se de como havia parado ali, mas não obteve sucesso. Após um tempo considerável sem beber água e se alimentar, a mente simplesmente se nega a estruturar qualquer pensamento complexo, então a menina só pôde apoiar a cabeça na madeira enquanto olhava ao longe o azul do céu se misturar com o azul do mar.
Pobre Luciana. As horas se arrastavam lentamente enquanto ela tentava não pensar que muito provavelmente seria este o seu ultimo dia na Terra (ironicamente, no mar).
Influenciada por tantos filmes que vira na infância, começou se perguntar se não poderia um príncipe montado em seu cavalo voador descer das nuvens para a salvar.
Mas a fuga não veio de cima.
Não queria aceitar que estava sendo puxada para baixo. Um puxão brusco. E outro. Foi forçada a largar a madeira que agora boiava alguns centímetros acima de sua cabeça, na superfície. Misteriosamente a garota descia e descia, levada não se sabe por o que, mas agora mal conseguia enxergar o pedaço de madeira que havia mantido ela viva, agora muitos metros acima de sua cabeça, lá na superfície.
Sua esperança havia sido inundada por águas traiçoeiras.
E então ela se foi.