domingo, 8 de julho de 2012

A Vida é um Labirinto


Ao passar pela porta, notou que a mesma se fechou atrás dele com um baque surdo. Respondendo a um ligeiro instinto de remorso que surgiu em seu estômago, tentou abri-la, mas tarde demais, ao que parecia, a porta estava trancada.
Virou-se e começou a caminhar o corredor que se estendia longo e ameaçador à sua frente. Dobrou a esquerda, caminhou um pouco mais, virou à direita e deparou com uma bifurcação. Seguir reto ou virar à esquerda?
Decidiu seguir reto e após alguns minutos topou com uma escada que subia tão alto ao ponto que seus olhos não enxergavam o topo dela. Sem hesitar ele subiu, subiu cada degrau torcendo para que todos os caminhos que ele tivesse escolhido até ali o guiassem até seu destino certo. Mas ao chegar ao topo da escada percebeu que nada havia ali. Só havia uma parede à sua frente, que na verdade era o teto. Sem alçapões, túneis ou qualquer tipo de passagem.
Virou-se e desceu a escada, caminhou mais alguns minutos e topou novamente com aquela bifurcação. Dessa vez, escolheu o outro caminho, e seguiu nele. Sua excitação aumentando a cada passo. –Será que agora finalmente encontrei a saída final? – andou mais umas horas, e topou com uma parede, nada mais.
A decepção brotava de cada poro de seu corpo, agora todo suado, e sua cabeça doía toda vez que ele soprava o ar de cansaço.
Retornando, concluiu que errara todo o seu caminho, e estava disposto a traçá-lo novamente, desde o princípio, mas na direção oposta agora, quando se deu conta de que ele já não sabia o que era esquerda e direita, o que era oposto e definido, o que era frente e muito menos o que era trás.
Aquele labirinto era demasiadamente azul e seus sentidos o traíam toda vez que ele mudava de direção. Os ponteiros de seu relógio giravam no sentido anti-horário agora, e ele não mais sentia o tempo passar.
Levantou-se com grande esforço e começou a correr. Não sabia do que estava correndo, por que estava correndo e sabia muito menos para onde estava correndo.
Até que observou uma estranha figura no fim do corredor. Tinha certeza que já tinha passado por ali antes e a figura não estava lá. Aproximou-se o bastante para ver um velho sentado numa cadeira de balanço, jogando seu corpo magro para frente e para trás, enquanto ria da cara do moço cansado e confuso.
-Por que está rindo de mim? – O rapaz perguntou.
-Michael, Michael... Você não precisava ter corrido, nem se desesperado. – Respondeu o velho com ar de sábio – Mas ainda bem que me encontrou.
-Como sabe meu nome?! O senhor me conhece?! Foi você que me pôs aqui? – Ele gritou, estava ficando de fato apreensivo.
-Michael, eu sei de tudo. – Respondeu o velho, cada vez mais tranqüilo e confortável em sua cadeira.
-Sabe de tudo, é?! – Rosnou Michael – Então me conta o que vai acontecer comigo agora!
Ajeitando seu manto calmamente, o velho nem levantou a cabeça para responder: -Você vai morrer, é claro – E sorriu.
-Velho maldito! – Gritou Michael – Como ousas me mandar para esse lugar, me deixar sozinho e perdido e depois... tirar minha vida?!
-A culpa não é minha de você ter vindo ao mundo, Michael. Os humanos adoram me culpar por sua existência vazia. – O velho desabafou – E, a propósito, eu não vou tirar a sua vida, meu querido. Será que você ainda não percebeu que é assim? Vocês têm diversas opções e direções a seguir, e cada uma delas muda completamente todos as situações que o envolvem. A única coisa que eu faço é disponibilizar caminhos diferentes para que vocês mesmos possam traçar aquilo que acham mais conveniente.

-Então por acaso isso é algum tipo de jogo perverso no qual você fica observando tudo que acontece  para se divertir da miséria alheia? - Concluiu Michael, chutando uma lata de tinta vazia jogada ao seu lado. Ao chutar a lata se lembrou que ela não estava ali momentos antes.
Novamente o velho sorriu.
-Você está se equivocando, Michael. Como fez a vida inteira, em todos os caminhos que você tomou. Eles o trouxeram a esse ponto. Fico feliz que tenha me enxergado aqui. Já não há mais tempo de errar. Vamos começar de novo?
E então Michael se foi.

Último Adeus

Ele partiu em seu carro prateado
Deixando o coração da moça desamparado
Observando pelo vidro da janela a chuva que caía,
Ela amaldiçoava sua vontade de tê-lo, e sua covardia.
Ele foi embora
O que faria com seu amor agora?
Haveria de ser transformado em saudade
Todo o seu afeto, sua amizade.
Oh, quanta crueldade.